terça-feira, 5 de outubro de 2010

De contador e louco todo mundo tem um pouco


Todos nós, ao menos uma vez na vida, já nos aventuramos ao “nobre ofício” de dar opinião, parecer ou coisa semelhante, sobre assuntos relacionados à profissão alheia.

Na hora de escalar a seleção brasileira, todos têm a lista na ponta da língua, e, nunca é igual à do técnico, que geralmente “não entende de futebol”. Ficou doente, é só falar com o vizinho e lá vem ele com uma receita pronta, que já serviu ao amigo do amigo e, pasmem, funcionou – os sintomas são sempre parecidos. 
Hoje em dia, com a internet à disposição, o paciente já chega ao consultório com o diagnóstico pronto e a medicação indicada – e haja paciência ao pobre do médico que tem de escutar a ladainha e explicar que apesar de os sintomas serem parecidos, a sua doença não é igual à do amigo do amigo do vizinho.
Pois bem, citei os exemplos acima como forma de mostrar que esse mal atinge também a nós contadores, ou seja, o cliente querendo se “automedicar”.

Nossa legislação tributária é muito complexa e onerosa para as empresas, o que acaba levando muitos empresários a uma busca incansável por uma fórmula mágica que o ajude a reduzir o peso dos impostos gerados por sua empresa – o chamado planejamento tributário. O problema é que, nessa busca incansável, eles acabam, muitas vezes, ouvindo os “amigos contadores”, - que acreditam que sabem tudo - e repassando suas “receitas mágicas” aos quatro ventos.

Vejo que alguns colegas não conseguem lidar muito bem esse tipo de questionamento, podendo até mesmo gerar conflitos desnecessários na relação: contador/cliente. Na maioria dos casos, quando o cliente o questiona sobre outras formas de tributação ele não o faz com má intenção, mas sim como uma maneira de interagir e mostrar-lhe que está interessado em melhor entender essa colcha de retalhos que é a nossa legislação tributária.

Um dos questionamentos mais comuns, principalmente por parte de pequenos empresários, é sobre a viabilidade de alterar a tributação de sua empresa para o Lucro Real. Os argumentos são os mais variados: “Ah, mas eu tenho muitas despesas”, “Minha empresa só dá prejuízo”, “O fulano mudou e disse que o imposto diminuiu bastante”. Isso só para citar alguns argumentos.

Nesse momento é que você deve mostrar que tem o controle da situação tributária da empresa de seu cliente. Por exemplo, aquele que alegou que “Minha empresa só dá prejuízo”, geralmente é o que mais faz retirada de caixa da empresa para pagamento de despesas pessoais – acima de sua capacidade -, o que lhe dá a falsa impressão de que ela é deficitária, quando na realidade é lucrativa, e, analisando friamente, “assaltada” pelo próprio sócio.

É claro que existem as exceções, mas somente o profissional habilitado será capaz de identificar cada caso e definir quais as empresas sob sua responsabilidade podem optar por este ou aquele regime de tributação. 
Por mais que você sinta-se incomodado com alguns questionamentos - alguns bizarros -, não deve ignorar e desprezar as dúvidas do empresário. Deve sim, é aproveitar esses momentos de “reflexão filosófica” e ajudá-lo a entender melhor os mecanismos de tributação existentes e de como a sua empresa está inserida nesse contexto. Você pode fazer pequenas simulações para que ele consiga visualizar a diferença nas formas de tributação existentes: Lucro Real, Presumido e Simples Nacional, pois às vezes não basta falar que está aplicando a melhor forma de tributação para a sua empresa, você precisa mostrar, e a única maneira de fazer isso é através de números e gráficos.

É claro que para tudo existe um limite, e, quando o empresário rejeita todos os argumentos por você apresentados, talvez seja hora de sugerir-lhe que procure outro profissional para atendê-lo, antes que ocorra algum atrito mais sério. Pense nisso, e, principalmente, não enlouqueça!

Autor: Isaac Rincaweski

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